Crônica, um jornal para os homens do “povo”

Representações sobre masculinidades durante o governo Illia (1963-1966)

Resumo

Embora a presidência de Arturo Illia tenha sido marcada pela proscrição do peronismo, o período assistiu a avanços na liberdade de expressão e à representatividade e crescimento das empresas editoriais e culturais, contexto em que surgiu o diário portenho Crónica. Voltado para os setores populares e com uma abordagem sensacionalista caracterizada pela priorização das notícias esportivas e policiais, esse veículo se inseriu no amplo processo de revisão sociocultural que permeou a década de 1960. No contexto global da chamada "revolução sexual", os grandes pilares da organização social, como o casamento indissolúvel e a divisão de papéis com base no gênero, foram gradualmente questionados na Argentina, assim como o modelo tradicional de masculinidade de um homem viril, viril e profissional, chefe de família. 

Compreendendo a mídia como um ator político que constrói representações sociais e propõe formas de interpretar o mundo por meio de ideias sobre o que é aceitável ou não segundo o gênero, este artigo propõe uma análise da Crônica no contexto da revisão e do questionamento incipiente do modelo familiar. Com base em um estudo qualitativo, serão analisadas as representações que o periódico construiu ao longo de seus primeiros anos em torno das masculinidades nas seções de esportes, polícia, entretenimento e feminino. 

O corpus documental abarca as edições da Crónica publicadas entre 29 de julho de 1963, data de sua fundação, e 28 de julho de 1966, quando o governo de Illia foi destituído e um governo ditatorial assumiu o poder, caracterizado, entre outras medidas, por censura, perseguição e defesa dos valores tradicionais da civilização cristã ocidental.